& JOÃO, O BATISTA -  UM NOVO PROFETA,  INAUGURA UMA NOVA ERA.

No período interbíblico, em lugar da voz viva dos profetas do SENHOR, surgiram duas correntes religiosas,

A religião dos escribas que  interpretava a vontade de Deus somente em termos de obediência à Lei escrita, interpretação feita pelos escribas;  e

 a religião dos apocalípticos que incorporavam à Lei suas esperanças numa salvação futura apocalíptica em que Deus reinaugurasse o Seu Reino.

  -   João, segundo  Lucas 1.80, atingindo sua maturidade sentiu forte necessidade de sair dos grandes centros, e  foi para o deserto

( eruditos mais recentes como Brownlee, J.A. T. Robinson, e Scobie estão certos de que ele era membro da Seita de Qunram, esta é uma possibilidade óbvia, porém é melhor que fique no campo da especulação).   Permanecendo por anos no deserto (parece que meditando) esperando a manifestação de Deus. "Veio a palavra de Deus a João" Lc 3.2.

  João surgiu no vale do Jordão pregando o batismo de arrependimento, de  modo profético anunciando que o Reino de Deus está próximo.

 Sua indumentária: manto de pelos e cinto de couro (parece ser uma imitação dos sinais característicos de um profeta cf. Zc. 13.4; 2 Reis 1.8, LXX.) Em João 1.21, João negou ser o Cristo ou Elias.

 

Sua atuação foi dentro dos moldes tradicional de um profeta.

 

 Sua mensagem: ele anunciava (com autoridade profética recebida da Palavra de Deus) a grande ação interventora do SENHOR na história para manifestar o seu poder real, e que portanto, antecipadamente todos deveriam se arrepender, e como evidência submeterem-se ao batismo.

 

 Seu ministério criou uma Nova Expectativa, dá para imaginar, o clima, a reação do povo, diante de um profeta portador de uma mensagem vívida e carregada de autoridade divina.   Toda Judéia logo ficou sabendo, e multidões começaram a se dirigir para o rio Jordão, onde Ele pregava (Mc. 1.5) assim ouvindo-o se submetiam ao batismo e suas exigências (Mc. 11.32; Mt. 14.5)

 

A CRISE IMINENTE

         A iminente intervenção de Deus no Reino, a que João anunciou, envolvia:

 Um duplo batismo seg.: Mt.3.11 e Lc. 3.16 (um simples batismo seg. :Mc. 1.8) Com o Espírito e com fogo.

Um modo de compreender, é o de que João anunciou um único batismo mas que inclui  dois elementos:       a punição dos ímpios   e   a purificação dos justos.

 Outro ponto de vista, aquele que estava por vir batizaria os justos com o Espírito Santo e os ímpios com o fogo.

 No VT existe uma ampla base acerca de um derramamento escatológico do Espírito. (Isaías 44.3-5 profecia sobre o "Servo")  este elemento é básico para efetivar a transformação da era messiânica,

assim o Rei messiânico reinará em justiça e prosperidade, e a justiça e a paz irão prevalecer (Is. 32.15)

 Ez. 37.14 promete a ressurreição de Israel quando Deus colocar seu espírito dentro de cada israelita

Ez. 36.27 Deus então dará ao seu povo um novo coração e um novo espírito, através do Espírito Santo, capacitando-os a andar em obediência à Sua vontade.

Joel 2.28-32 Aponta para o dia do Senhor, semelhantemente, identifica que um grande derramamento do Espírito e sinais apocalípticos, identificará o tempo(dia) do Senhor

 João estava indicando que as promessas eram  iminentes, é tempo de arrependimento e de produzir frutos dignos de arrependimento.

 João também anunciou um batismo de fogo, o contexto (Mt. 3.12; Lc. 3.17)  precisamente indica isto:

a seleção dos grãos e a moagem do trigo, o trigo ajuntado no celeiro e a palha queimada com fogo inextinguível"

aponta para algo escatológico, além dos limites ordinários (cf. Is. 1.31; 66.24; Jr. 7.20).  

 Isto afeta a todos os homens.   Uma seleção vai acontecer celeiro ou fogo.

Alguns serão batizados com o Espírito (celeiro)

- outros serão mandados embora em juízo. (fogo)

 

Para João o evento do Messias sugere o término da era presente e a inauguração da Era Vindoura.

No VT ele é identificado como  um rei Davídico e o agente para o estabelecimento do Reino

Estes dois temas:

 Deus vai agir para salvar o seu povo, e

 Deus vai julgar os ímpios, perpassam as páginas do VT - previsto incisivamente em Ml. 4.1; Na. 1.6;

Is. 30.33.  "E a idéia é desenvolvida com grande extensão, na literatura do período intertestamentário."  (Ladd., p. 36)

 

O BATISMO DE JOÃO

 Em virtude de Israel se considerar um povo especial — o povo de Deus — entre todas as nações.  Não há na literatura apocalíptica ênfase à conversão.

(IV Esdras 7.20,23 o único a receber a Lei;  IV Esdras 6.55; 7.11  Deus fez o mundo por causa de Israel;

Apocalipse de Baruque 48.21-24 Deu-lhes a Lei de modo a permitir que fosse salvo;   Salmos de Saolomão 17.50  Quando Deus implantar o seu Reino, o povo de Israel será congregado para desfrutar a salvação messiânica e Assunção de Moisés 10.7-10, para testemunhar o castigo dos Gentios).

 

 Para O Reino vindouro é necessário uma preparação.

 João clama o povo ao arrependimento (metanoia = voltar-se do pecado para Deus)  

Deus conclamou através de Ez. 14.6; ver 18.30; Is. 55.67: “Arrependei-vos e voltai dos vossos ídolos; voltai-vos de todas as vossas abominações.”

 

"O batismo de João rejeitou todas as idéias de uma justiça legalista ou nacionalista e exigiu um retorno moral e religioso para Deus."(Ladd., p.38)      Ele rejeitou a idéia de um Israel justo.     Anuncia que somente aqueles que se arrependem é que manifestam frutos dignos (mudança de conduta cf. Lc ajuda aos necessitados, justiça...)

 

O batismo para João é a expressão do arrependimento, e este sim é que resulta no perdão dos pecados.

 

A ORIGEM DO BATISMO DE JOÃO

 ¨ Há semelhanças entre o batismo de João e o batismo de prosélitos judaicos: Em ambos os ritos, o iniciante era imergido ou imergia-se completamente na água.     Faziam uma confissão de rompimento ético com a sua maneira primitiva de viver e de dedicação numa nova vida.      O Rito era uma vez só realizado.

    batismo de João tinha por objetivo preparar o povo para a era vindoura — caráter escatológico.

 Enquanto o de prosélitos era aplicado somente a gentios, o de João era para os Judeus.

 Seja qual for "o fundamento histórico,  João    um  novo  significado  ao  rito  da  imersão  por  chamar  o  povo ao  arrependimento,  tendo  em  vista  a  aproximação  do  Reino  de  Deus" (Ladd., p.40)

 

JESUS E JOÃO

 Jesus explicou o significado do ministério de João conforme está registrado em Mateus 11.2 s

 — As pressuposições da interrogação de João:

-       “Quando João, no cárcere, ouviu falar das obras do Cristo.”(v. 2)

-       Duvidou  se de fato Jesus Cristo seria  aquele Messias esperado:

João ao ouvir as obras que Cristo realizava, questionou 

O problema é que tais atos e realizações não eram aqueles que João esperava.  Não havia acontecido, até então, nenhum batismo do Espírito nem de fogo.  O Reino não havia chegado.   O mundo permaneceu como estava anteriormente.  Tudo o que Jesus estava fazendo era pregar o amor e amar às pessoas enfermas.   Não era isto o que João esperava.  Ele [...] questinou se Jesus era de fato aquele que deveria inaugurar o Reino de Deus em poder apocalíptico. ( Ladd., p 40 )

 

— A resposta de Jesus: ( vv 4 – 6 )

         Indicou que a profecia (messiânica) de Isaías 35.5-6, estava se cumprindo em seu ministério.   Era

chegado os dias do reinado messiânico.

 Jesus louvou a João de modo elevado: (vv 7-14)

                  João é o Elias acerca de quem Malaquias profetizou:

           “...Jesus asseverou que João era o Elias  que deveria proclamar o Dia do Senhor” Conforme a profecia de  Malaquias 4.5” (Ladd., p.40).

 

         Ninguém maior do que João, o Batista jamais existira. (v 11)

         Nas palavras de Jesus, João foi o maior de todos os profetas, o mais importante homem nascido de mulher até então:

Concluímos que Jesus quis dizer que João é o maior dos profetas; de fato, ele é o último dos profetas.  Com ele, a era da Lei e dos profetas tinha chegado ao seu fim.  A partir dos dias de João, o Reino de Deus está operando no mundo, e o menor nesta nova era desfruta e conhece bênçãos maiores que as desfrutadas por João, porque participa de uma nova comunhão pessoal com o Messias e das bênçãos que este fato confere.   João é o arauto, assinalado que a antiga era havia chegado ao seu fim e a nova era estava irrompendo no horizonte. (Ladd., p.40-41.).

 

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JOÃO BATISTA NO QUARTO EVANGELHO

 Neste Evangelho, a narrativa acerca de João é bem diferente das encontradas nos Sinópticos:

 

— João descreve o Messias como aquele que é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo ( João 1.29 ).

— Segundo a crítica moderna, isto significa “uma reinterpretação radical do ministério de João feita

pela igreja cristã à luz do ministério real de Jesus.  A proclamação apocalíptica é colocada de lado em favor da soteriologia . Para a crítica moderna, consequentemente, a narrativa do Evangelho de João não é histórica, mas uma reinterpretação teológica. Contudo, esta conclusão é quase desnecessária e ignora certos fatos importantes.  O registro tal qual ele se encontra em nossos textos é historicamente consistente e demonstra uma perspectiva psicológica correta.   A narrativa encontra no Evangelho de João pressupõe os eventos descritos nos Evangelhos Sinópticos.  Isto é claramente indicado em João 1.32-33, onde o batismo de Jesus já havia acontecido, e pelo fato de que o grupo comissionado pelos sacerdotes e levitas, para argüir a João quanto à sua autoridade para fazer o que estava fazendo, deve ter sido ocasionado por eventos como os que se encontram descritos nos Evangelhos Sinópticos.   O Quarto Evangelho não pretende dar uma história diferente da narrada pelos Sinópticos, mas representa uma tradição independente.” (Ladd., p. 41.)

 

Devemos entender a proclamação complementar que João fez acerca do ministério messiânico de Jesus:

— Como “a própria interpretação que João fez de sua experiência no batismo de Jesus, iluminada por uma inspiração profética posterior.  Deve ser lembrado que, se bem que haja vários pontos de contato entre o ministério de João Batista como narrado nos Sinópticos e o pensamento escatológico e apocalíptico contemporâneos aos seus dias, os elementos de divergência são ainda mais destacados. ‘O ministério essencial do discernimento e inspiração profética’ não pode ser explicado pelas limitações de uma metodologia naturalista [...] A mesma inspiração profética que impulsionou João a proclamar a iminência da atividade divina para a salvação messiânica agora, à luz de sua experiência com Jesus, o impele a acrescentar uma outra palavra.”(Ibid., p. 41.)

 

No   Batismo   de   Jesus,   João  reconheceu   que   a   Pessoa   que   se   apresentava ...

  “diferia em qualidade dos outros homens. Jesus não tinha pecados a confessar nem um sentimento de culpa que o levasse ao arrependimento. Não podemos dizer se o reconhecimento de João a respeito da impecabilidade de Jesus foi baseado em um diálogo em que ele lhe tenha formulado perguntas ou somente na iluminação profética.  Provavelmente ambos os elementos estiveram envolvidos. De qualquer forma, João estava convencido de sua própria pecaminosidade em comparação com a impecabilidade de Jesus.”(Ibid., p. 41-2.)

 

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Elaborada por Walter Meleschco Carvalho, e atualizada em 28/09/2005